Hoje vamos falar um pouco sobre a importância do debate acerca da
consciência negra e principalmente sobre esse assunto dentro do meio
corporativo.
Quer saber um pouco mais sobre o assunto? Fica aqui com a
gente!
Você sabia que fora da África o Brasil é o país que mais conta com pessoas
de pele negra em sua composição?
É isso mesmo. Nossa população é composta por 54% de homens e mulheres negras.
Ainda assim, em nosso país, mesmo após a abolição da escravatura ocorrida em 1888, os negros
continuaram a ser oprimidos, sem direito a uma política de inserção adequada e sem reparação do cenário que se colocou após tantos anos de opressão e escravidão.
Esse histórico reflete diretamente na pouca representatividade negra nas mídias, da baixa ascensão desse grupo em espaços de poder e mesmo na marginalização dos mesmos na sociedade.
O racismo está encrustado na sociedade e a baixa representatividade do grupo acaba por enfatizar essa marginalização, evidenciando problemas de autoestima e insegurança dessas pessoas sobre o lugar que de fato devem ocupar na sociedade.
O que é Consciência Negra?
Essa expressão é um desígnio da percepção com bases históricas e culturais que os sujeitos negros possuem de si próprios.
A expressão ainda evidencia a luta desse grupo contra a desigualdade e a discriminação em função de sua cor.
Por que é necessário pensar a Consciência Negra?
Ainda que a população negra no Brasil represente mais de 50% da população, não percebemos sua permanência em grande escala em espaços ditos de poder.
Por exemplo, ainda é raro se deparar com um negro em um consultório, exercendo a medicina, ou mesmo pilotando um avião…
O fato de os negros não estarem em grande escala inseridos em posições como essas já denota um problema de questão racial – chamado de racismo estrutural, que se insere em uma explicação breve de que o racismo está na estrutura da nossa sociedade.
Além disso, são constantes os episódios que presenciamos todos os dias, se reparamos com atenção, de injúrias raciais e ofensas de cunho racista. A mídias sociais também tem sido bastante utilizadas para denunciarem episódios de racismo, como por exemplo em jogos de futebol ou mesmo na própria Internet, em comentários e posts nas mídias sociais.
Aspectos e vivências como essas, que passam desapercebidas pela maioria da sociedade são decisivos para que o negro acabe por construir uma consciência de que não possui os mesmos direitos que o branco.
A importância de construção de uma consciência negra perpassa justamente essas questões. A partir da tomada de consciência o negro tem a possibilidade de se libertar de determinismos da sociedade e encontrar sua identidade.
A intenção é compreender que adquirir essa consciência transcende a questão da cor, unicamente.
A importância da consciência se insere também na união de pessoas em prol dessa causa!
Um pouco sobre a construção do 20 de novembro…
O dia da Consciência Negra é partilhado por todo o território brasileiro. O motivo da escolha dessa data se relaciona a morte de Zumbi de Palmares, conhecido na história como um grande líder negro.
A data está imbuída de questionamentos e luta sobra a posição que o negro ocupa na sociedade, o que inclui debates sobre pré-conceito que o grupo ainda sofre em virtude do passado brasileiro marcado pela escravidão.
A data foi estabelecida pelo projeto Lei n.º 10.639, no dia 9 de janeiro de 2003. Todavia, apenas no ano de 2011 a lei foi sancionada (Lei 12.519/2011) pela então presidente Dilma Rousseff.
Apenas em alguns estados do Brasil foi estabelecido feriado em virtude da data, como, por exemplo, no Rio de Janeiro, Alagoas e Rio Grande do Sul.
A importância dessa data se justifica ainda pela valorização de um povo que em muito contribuiu para a construção cultural brasileira, extremamente plural.
Quando em 9 de janeiro de 2003, a Lei Federal 10.639 instituiu o “Dia Nacional da Consciência Negra” o ensino da cultura afro-brasileira passou a fazer parte do currículo escolar em todo o país.
Esse é um passo de suma importância no ensino, visto que permite inserir com maiores detalhes a cultura negra no currículo escolar e contribuir para que a grande quantidade de alunos negros se enxerguem inseridos na realidade apresentada.
Se antes os alunos tinham acesso a um ensino muito mais eurocêntrico, essa nova ótica garante uma maior aproximação e identificação com os conteúdos apresentados, além do próprio incentivo de construção de uma identidade.
Se quiser saber um pouco mais sobre a história da Consciência Negra, Leia Este Artigo >>
Os negros no meio corporativo
Infelizmente o racismo ainda é uma realidade nos meios corporativos.
Basta olharmos um espaço corporativo e nos atentarmos as posições ocupadas e a cor da pele de quem as ocupa.
Para Maria Sylvia, advogada, ativista de Direitos Humanos e Presidente do Geledés, o racismo nesse meio já tem início na área do RH, que por indicação de superiores, não realizam contratação de pessoas negras como colaboradoras.
Além disso, a advogada destaca ainda a dificuldade de ascensão dessas pessoas em suas carreiras, mesmo com as mesmas qualificações que pessoas brancas.
Por fim, destaca ainda o tratamento recebido dentro da empresa, tratamento este que pode ser desrespeitoso por parte mesmo de outros colegas.
Para ela o racismo institucional é, portanto, multifacetado. Ainda que existam leis específicas, como o Estatuto da Igualdade Racial, o racismo é uma realidade nesse meio.
Sua inexpressiva participação em cargos de gerência tem a ver com a perpetuação de desigualdades sociais em nosso país.
Segundo o antropólogo Pedro Jaime que estudou o tema em seu doutorado que fora publicado pela Edusp com o título “Executivos negros: racismo e diversidade no mundo empresarial”, ainda que tenha havido mudanças nas trajetórias de negros em suas carreiras executivas entre o final de 1970 e o início desse século, ainda é muito discrepante a diferença entre a presença de brancos e negros no mundo corporativo brasileiro.
Leia Sobre >> Diversidade no Ambiente de Trabalho
O que tem sido feito para mudar essa realidade?
É inegável que as empresas têm pensado maneiras de mudar essa realidade tão assoladora para a população negra.
Através de programas que incentivam a entrada e permanência dessas pessoas nesse mundo. Para Pedro Jaime, os jovens que adentram o setor nesse século têm mais oportunidades do que aqueles executivos negros que tiveram que construir suas carreiras a partir de finais de 1970.
Ainda que os números continuem sendo desanimadores, acreditamos que há uma luz no final desse túnel e que esses programas associados à constante luta serão fundamentais para que no futuro vejamos muitos mais colaboradores negros inseridos de forma adequada no corporativismo.
Essa é a importância de se trabalhar na cabeça da população negra e, principalmente dos jovens, a ideia de Consciência Negra como forma de combate à discriminação e ao racismo estrutural.
A tomada de posição também representa uma tomada de lugar e lugar que também os pertence, não só no mundo do trabalho, mas em todos os segmentos da vida.
Você já sofreu algum tipo de discriminação no ambiente corporativo por ser negro? Tem algum colega de trabalho que já passou por isso? Partilhe conosco a sua experiência e vamos enriquecer esse debate!
Fonte:
http://www.institutovotorantim.org.br/racismo-corporativo-como-mudar/
https://www.nexojornal.com.br/entrevista/2017/03/12/Falta-de-pol%C3%ADticas-p%C3%BAblicas-explica-desigualdades-raciais-no-mundo-